sábado, 8 de fevereiro de 2014

O Espírito Santo – Parte 1

EBD-Jovens 02/02/2014 – Igreja Batista Emanuel
Baseado nas obras de John Owen, John Gill e Spurgeon
Texto-base: Jo.14

Link .pdf: 
https://www.dropbox.com/s/uq7oqik0fio5wss/o_espirito_santo_parte1_ebd_02-02-2014.pdf

Introdução


Na última semana, surgiu uma discussão sobre “revelações” no grupo da IBE no WhatsApp. Esse é um assunto importante e que deve ser tratado com diligência, uma vez que o coração pecaminoso do homem é facilmente seduzido e corrompido por qualquer misticismo que ofereça alimento para o orgulho e idolatria de si mesmo. Digo isso pois a queda deflagrou na alma humana uma certa paixão por aquilo que a coloca em posições mais altas, e é isso o que se observa: a elevação do “status” social-religioso para os que supostamente possuem poderes do céu.

Percebe-se, contudo, que apesar dessa necessidade de instrução sobre o assunto, precisamos satisfazer os pré-requisitos da matéria. Parece-me que tudo o que as novas gerações de evangélicos sabem a respeito do Espírito se limita à manifestação de dons miraculosos; ainda, podemos dizer que esse conhecimento, por vezes, é contrário ao ensino da Escritura e às doutrinas históricas saudáveis. Talvez essa seja uma das consequências da difusão da teologia Pentecostal e Neopentecostal nas igrejas brasileiras nas últimas décadas. Essa falta de aplicação ao entendimento mais crucial dos fundamentos bíblicos tem gerado debates tolos e infrutíferos, quando não conclusões precipitadas.

Portanto, antes de estudarmos os dons, faz-se necessário conhecer a terceira Pessoa da Trindade, e o que de fato foram e são Suas obra. Iniciaremos hoje a série de Estudos sobre o Espírito Santo.

Como o Espírito Santo Vem a Nós


Somente Deus é quem nos dá o Espírito, graciosamente (Lc.11:13; 1Jo.3:24).

Deus envia seu Espírito para nós (Jo.14:26); esse “enviar” significa que o Espírito não estava com a pessoa antes de ser enviada a ela.

O diz-se frequentemente que Deus “derrama” o Seu Espírito Santo (At.2:17). Essa expressão é utilizada com referência à época do evangelho, em que Ele concede uma parcela maior do Seu Espírito – o derramar dos dons e das graças do Espírito, e obras especiais como purificação e consolação.

O Espírito Santo


O Espírito Santo é a terceira pessoa da Trindade. Ele também é chamado na Escritura de:

·         Espírito de Deus (Rm.8:14),
·         Espírito do Senhor (At.8:39),
·         Espírito do Filho (Gl.4:6),
·         Espírito de Cristo (Rm.8:9) e
·         Espírito da Verdade (Jo.15:26).
·         Consolador, que será explicado propriamente adiante (Jo.16)


Cada um desses nomes revela a natureza e obras do Espírito. A palavra “Espírito” descreve sua pureza, existência imaterial e santidade.

Cabe aqui uma observação sobre duas expressões comuns nas igrejas, qual sejam:

·         “Sentir a presença do Espírito Santo” e
·         “Ser guiado pelo Espírito Santo.”

Sobre a primeira deve-se dizer que, sendo Ele imaterial não podemos senti-lo como se, alguém estivesse nos tocando ou envolvendo fisicamente; não podemos assumir que seja do Espírito alguma experiência emocional sem razão, à parte da fé em Cristo. Por outro lado, também é importante ressaltar que não devemos assumir, como os gnósticos, que apenas o conhecimento é suficiente. Podemos e deveríamos sentir tristeza ao sermos convencidos do pecado por Ele, assim como podemos desfrutar de imensa paz e conforto quando Ele nos traz iluminação de alguma passagem da Escritura e, finalmente, podemos experimentar alegria indizível na busca pela santidade, sabendo que estamos sendo conformados à imagem de nosso Senhor Jesus.

Sobre a segunda afirmação, lemos em Rm.8:14

Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus.”

Analisando esse versículo, John Gill escreveu:

“Não pelo espírito do mundo, nem pelo diabo, ou por seus próprios espíritos: o ato de guiar atribuído ao Espírito é uma alusão a um guia de pessoas cegas ou daqueles que estão em trevas; ou mesmo a guiar uma criança e ensiná-la a ir; o que supõe vida àqueles que são guiados, e algum grau de força, embora com alguma fraqueza; e é uma demonstração de graça poderosa e eficaz, que é sempre para o bem deles: o Espírito de Deus os guia [para longe ] de seus pecados, e da dependência de suas próprias justiças, em caminhos que nunca conheceram, e pelos quais deveriam ir, no caminho da fé e verdade, de justiça e santidade, em um caminho certo embora algumas vezes acidentado; Ele os guia à pessoa, sangue, e justiça de Cristo e à completa graça n’Ele; à presença de Deus, à casa e ordenanças de Deus; às verdades do Evangelho; de um nível de graça a outro, e finalmente à glória; Ele faz isso gradualmente, de pouco a pouco ele os guia até que vejam seus corações e sua natureza lançadas sobre Cristo e a salvação d’Ele, às doutrinas da graça, e ao amor e favor de Deus [...]”

Ou seja, o Espírito nos guia no caminho da santidade. Não devemos supor que as decisão que precisamos tomar diariamente devam ser baseadas em supostas “revelações proféticas”; porém demos pedir ao Senhor que Seu Espírito nos ilumine e dê conhecimento de Deus e de Sua vontade revelada na Palavra para que tudo em nossas vidas seja para a glória d’Ele.

A Obra do Espírito Santo (o Que Ele Realiza em Nós)


Todas as pessoas da Trindade estão envolvidas na salvação de pecadores, Deus Pai, Seu Filho e Seu Espírito. O Pai planejou a obra, o Filho a consumou na cruz do calvário e o Espírito capacita os pecadores eleitos a crer e recebê-la. Assim, Deus enviou seu Filho que tomou sobre si nossa natureza (sem, contudo, ter pecado) e nela sofrer por nós; e o Espírito para levar pecadores à fé em Cristo e serem salvos.

Através da revelação do Espírito Santo ao nosso coração, podemos conhecer a Cristo (Jo.14:16-17 e 25-26; Jo.15:26). Comentando sobre a última parte do vs.26 de João 15 (“este dará testemunho de mim”), John Gill escreve:

“[...] de Sua divindade e filiação, de Sua encarnação, de ser o Messias, de Seu sofrimento e morte, de sua ressurreição e ascensão, de Sua exaltação à direita do Pai, e de Seu julgamento dos vivos e dos mortos; de tudo isso ele dará testemunho, através dos dons concedidos aos apóstolos, e da grandiosa graça que estava sobre todos eles; através de sinais, maravilhas e diversos milagres, através dos quais o Evangelho de Cristo foi confirmado; e pelo poder, influência e sucesso que atendiam as pregações em todo lugar. Assim, ele testificou de Cristo, contra os Judeus blasfemos, e os Gentios perseguidores, para os reprovar e confundir; e testificou-O também aos apóstolos, e a todos os verdadeiros crentes, para sua grade alegria e conforto, e para fazê-los suportar toda malícia e ira do mundo.”

O Espírito Santo também regenera os pecadores, ou seja, Ele dá vida aos que estão mortos em pecados e delitos (Jo.3:5; Ef.2:1); é quem convence pecadores que o evangelho é verdadeiro e vindo de Deus (comparar Jo.14:6 e Jo.16:7-8). Se o Espírito não operar no pecador a Escritura será inútil; todo o bem resultante da salvação é revelado e dado pelo Espírito pelo entendimento e aceitação da Palavra.

Ele nos santifica capacitando a viver de modo santo e agradável para a glória Deus. A operação do Espírito Santo em nós nos ajuda a cumprir as leis morais de Deus (Jr.31:33 – “aqueles dias” refere-se aos dias do Evangelho, da Nova Aliança, como pode-se entender de Hb.8:8; ver também Hb.10:15-16; Rm.8:1-4; 1Jo.5:1-3). Ele gera frutos de santidade em nós (Gl.5:22)

Além disso, Spurgeon, em sua pregação “O Paracleto” (6 de Outubro de 1872), diz que os significados da palavra “Paracleto” também refletem as obras do Espírito e que podem ser colocados sobre dois pilares: “chamado para” e “chamando para”: Ele foi chamado para nos auxiliar, para nos ajudar com nossas enfermidades, para aconselhar, advogar, guiar, e assim por diante; e nos chama, para nosso próprio benefício, às obras que Ele ordena.

O Pecado Contra o Espírito


É o Espírito Santo que leva pecadores a crerem no sangue de Cristo para remissão de pecados. Se Ele for desprezado e rejeitado, não poderá haver perdão de pecados e salvação, visto que não há outro Espírito que nos faça crer e receber o Evangelho, nem outro Filho para fazer outra expiação por nós.

Conclusão



O Espírito Santo é aquele que substitui a presença de Cristo, de fato, Ele nos une a nosso Senhor que está à direita do Pai. Que não ousemos cobiçar dons miraculosos para satisfação das nossas próprias paixões e idolatria de nós mesmos; que não sejamos insensatos em atribuir os frutos de nossa imaginação ao Santo Espírito. Mas que Deus nos Conceda Seu Espírito, para que sejamos consolados quando afligidos pelas tribulações, fortalecidos para o ministério, ensinados na Escritura, para obedecermos à vontade revelada de Deus em sua Palavra, e, finalmente, para que sejamos conformes à imagem de Cristo.