O Espírito Santo – Parte 2
EBD-Jovens 16/02/2014 – Igreja
Batista Emanuel
Baseado na obra de O Espírito Santo, de John Owen e no
comentário expositivo de John Gill.
Link .pdf:
https://www.dropbox.com/s/fhwyougt3xike2i/o_esp%C3%ADrito_santo_parte2_16-02-2014.pdf
Introdução
Na última aula começamos a série
de estudos sobre o Espírito Santo. Quero que vocês relembrem alguns pontos
importantes: o que é sentir o Espírito? O que é ser guiado pelo Espírito? No
final da aula falamos um pouco sobre o Espírito Santo e obra da salvação.
Hoje falaremos rapidamente sobre
a Obra do Espírito na Criação e em seguida, sobre a Obra do Espírito no Antigo
Testamento, especificamente, sobre o papel da profecia antes da vinda de
Cristo.
A Obra do Espírito na Antiga Criação
Dizemos que Deus criou todas as
coisas. Devemos nos lembrar, porém, que isso não se refere apenas ao Deus Pai; as
três Pessoas da Trindade são indivisíveis em suas operações e atos, pela mesma
vontade, sabedoria e poder (ou seja, cada um não faz o que quer independente da
vontade do outro). Portanto, cada Pessoa da Trindade é autor de qualquer obra
de Deus, porque cada Pessoa é Deus e a natureza divina também é indivisível,
assim como operações divinas. Isso decorre da unidade das três Pessoas na mesma
essência. Porém, há diferenças quanto à subsistência e a maneira como cada obra
é atribuída a cada Pessoa. A criação do mundo, por exemplo, é atribuída ao Pai
como Sua obra (At.4:24 – aqui Deus é o Pai de Jesus Cristo, como pode ser
observado no vs.27), ao Filho (Jo.1:3) e também ao Espírito (Jó 33:4). O começo
de toda operação divina é atribuído ao Pai – dele, através dele e para Ele são
todas as coisas (Rm.11:36); a existência, o estabelecimento e o sustento de
todas as coisas é atribuído ao Filho – Ele é antes de todas as coisas e todas
as coisas subsistem por Ele (Cl.1:17); e a finalização de todas as coisas
atribuído ao Espírito. Isso não quer dizer que uma Pessoa da Trindade começa
sua obra onde a outra parou pois cada obra e cada parte das obras divinas é a
obra de Deus ou seja, de toda a Trindade, inseparável e indivisível.
As obras de Deus podem ser
divididas em duas categorias:
·
Obras da natureza;
·
Obras da graça.
Vamos considerar a atuação do
Espírito em cada uma.
Obras da Natureza
Ao Espírito Santo é atribuída a
obra da criação, por Ele completada e terminada (Jó 26:13 – “pelo Seu Espírito
ornou os céus”). Veja Sl.8:3; o que é o dedo de Deus? Comparar Mt.12:28 e
Lc.11:20. Ou seja, o Espírito de Deus adornou os céus, o enfeitou e embelezou
para declarar a glória e a sabedoria de Deus (Sl.19:1).
O mesmo se deu na criação da
Terra (sem forma e vazia; e com trevas sobre a face do abismo – Gn.1:2), uma
massa de material sólido e água que provavelmente o cobria; terra e água que
foram posteriormente divididos em terra seca e mar. O mesmo versículo registra
que o Espírito de Deus se movia (ou pairava) sobre a face das águas. A palavra
usada aqui para “mover” em hebraico é מְרַחֶ֖פֶת
(merachepheth), que significa um movimento suave e agradável, como uma
pomba ou a uma ave que
acolhe os filhotes no ninho, fornece o calor necessário aos ovos e os protege
(como em Dt.32:11); e não “vento de Deus” que é forte e poderoso para destruir
(Jó 4:9). O Espírito Santo estava ordenando e dando forma à matéria do mesmo
jeito que havia ordenado o céu (ver Jó 26:13) para dá-la virtude e torná-la
apta a produzir criaturas vivas nela; para que ao comando de Deus fossem
criadas todas as criaturas em abundância, de acordo com o princípio de vida que
foi comunicado à matéria rude, ao caos informe, pelo mover do Espírito
(Sl.54:30).
Obras da Graça
O vs.7 de Gn.2 diz que Deus
soprou o “fôlego de vida” que é a metáfora para Espírito de Deus, ou seja, a
criação da alma do homem foi obra imediata do Espírito de Deus (Jó 33:4). A
criação das partes essenciais da natureza homem, corpo e alma é atribuída ao
mesmo autor, pois o Espírito de Deus e o fôlego de Deus são os mesmos.
A alma do homem foi criada capaz
de viver para Deus, para discernir a vontade de d’Ele, com disposição parar
cumprir as leis de Deus gravadas no coração e abster-se do pecado.
Porém, o homem caiu em dois sentidos:
·
Naturalmente (com relação às partes essenciais
do ser – vida recebida do sopro de Deus, a inteligência, os sentidos, etc. –
Gn.2:7);
·
Moralmente (com relação aos princípios de
obediência às leis de Deus – Gn.1:26-27; Ec.7:29).
Como veremos adiante, o Espírito
restaura aquelas habilidades em nossas mentes, na renovação da imagem de Deus;
Ele opera isso nos eleitos. Esses então dão o fruto do Espírito (Ef.5:9;
Gl.5:22)
Obs.: sabemos que o objetivo
principal do homem é glorificar a Deus (ICo.10:31), e ter comunhão com Ele para
sempre (Sl.73:25-26), para isso ele foi criado.
Além disso, o Espírito de Deus
preserva e mantém todo o universo poderosa e eficazmente com providência
Divina.
As Obras do Espírito Santo no Antigo Testamento
Em geral, as obras do Espírito no
Antigo testamento em sua maioria, senão absolutamente e sempre, tem a ver com
nosso Senhor Jesus Cristo e o evangelho, elas prepararam o caminho da grande
obra da nova criação n’Ele e por Ele. Essas obras podem ser divididas em duas
categorias:
·
As extraordinárias, que excediam totalmente a
capacidade natural do homem
Essas podem ser subdivididas em:
1 – profecia;
2 – inspiração para redigir a Escritura;
3 – milagres.
·
As que elevavam alguma habilidade do homem em
determinadas ocasiões
Essas, por sua vez podem ser subdivididas em:
1
– capacidade política para governar entre os homens;
2
– em coisas morais como caráter e coragem;
3
– em coisas naturais como aumento da força do corpo;
4
– em capacidade intelectual.
A Profecia no Antigo Testamento
O primeiro dom do Espírito Santo
no Antigo Testamento, o qual teve relação mais direta e imediata a Jesus
Cristo, foi a profecia. O maior e principal fim deste instrumento na igreja era
dar testemunho d’Ele, de Seus sofrimentos e de Sua glória; ou para apontar
aquilo que deveria ser observado na adoração divina que poderiam ser tipos que
O representariam (1Pe.1:9-12). As profecias davam testemunho da verdade de Deus
na primeira promessa quanto à vinda da bendita Semente (Gn.3:15); e não apenas
isto, mas também quando e da maneira como a vinda de nosso Senhor se daria bem
como a condição do povo de Deus naqueles dias.
A comunicação do dom da profecia
se deu de forma progressiva desde que o mundo foi criado. Continuou sem interrupção
até que se completasse o Canon do Antigo Testamento, quando cessou na
comunidade Judaica. Depois disso reapareceu com João Batista, com uma abordagem
ainda mais próxima do Senhor Jesus Cristo, o motivo de todas as profecias
(Lc.1:68-80).
Vamos considerar agora os textos
de 2Sm.7 e 2Sm.12 e observar como as profecias estavam direta ou indiretamente
ligadas à Cristo ou ao evangelho.
2 Samuel 7 – A aliança Davídica
Davi desejou de coração (vs.3 -
“tudo quanto está no teu coração”)
construir o Templo. Natã certamente viu que o desejo do rei era sincero e achou
que Deus se agradaria daquilo. É possível que o profeta considerasse que o fato
de o Senhor ter dado “descanso de todos os inimigos” (vs.1) era um sinal de que
Deus aprovava ou aprovaria tudo que Davi fazia ou faria, e que aquela era uma
boa ocasião para a construção da “casa do Senhor”. Provavelmente, após o
encorajamento de Natã, Davi escreveu o Salmo 132. Porém, nem Davi nem Natã
haviam consultado a Deus sobre aquilo; a palavra de Natã (no vs.3) não era da
parte de Deus, ou seja, não era uma profecia, mas o que estava na mente do
profeta. Deus não permitiria que Davi construísse o Templo (vs.5 - “tu”; ver
1Cr.22:8).
Cabe aqui um parêntese: a
verdadeira profecia não é fruto do entendimento humano por melhores que sejam
as intenções, nem daquilo que o homem acha ser melhor ou mais proveitoso; a
verdadeira profecia é inspiração do Espírito Santo, é a revelação da vontade
soberana de Deus.
Embora Deus tenha proibido Davi
de construir o templo, no vs.8 Ele lembra a Seu servo de Sua bondade que o
levou do campo ao palácio e de como o havia engrandecido no trono.
A partir do vs.11 caminhamos para
o cerne da profecia de Natã. Temos nesse versículo uma mudança de cenário, uma
inversão de agentes: não se trata mais de Davi estabelecer a casa de Deus, mas
de Deus estabelecer a casa de Davi. Os versículos 12, 13 e os subsequentes se
referem a Salomão, porém, devemos ter em mente que ele era um antítipo/figura
do Messias (Zc.6:12; Jr.23:5 e Is.4:2 – o Renovo de Davi e a construção do
Templo; Jesus filho de Davi o cabeça, a pedra angular, o fundamento e fundador
da Igreja). No vs.14, novamente uma referência a Salomão e à Jesus (Mt.3:17). É
importante lembrar aqui que a parte “b” do versículo não se aplica a Cristo,
que não pecou nem conheceu pecado, mas foi feito pecado por imputação. E
finalmente, a chave da profecia, o estabelecimento da Aliança de Deus com Davi:
o vs.16 faz referência ao reinado eterno de da casa de Davi, reinado que foi
estabelecido e completado em Cristo, que reina e reinará por toda eternidade
(comparar vs.16 - “tua casa” e “teu reino” com 1Cr.17:14 – “minha casa” e “meu
reino”).
2 Samuel 12 – A Fidelidade de Deus à Sua Própria Aliança
Davi havia cometido adultério e
assassinato e o arrependimento não veio instantaneamente, embora sofresse
continuamente por causa do pecado e da consequente falta de comunhão com
Deus. Deus enviou o profeta Natã para
fazê-lo se arrepender publicamente de seu pecado. Nessa ocasião Davi escreveu o
Salmo 51.
A figura dos dois homens do vs.1
é uma clara referência à Davi e Urias. No vs.2, rebanhos e manadas significa as
muitas esposas e concubinas do rei (seis esposas apenas em Hebron). No vs.4,
embora alguns pensem que o viajante seja satanás vindo com tentações procurando
a quem possa devorar, os Judeus consideram que sejam as imaginações más e a
concupiscência que despertaram as paixões carnais de Davi e o fizeram querer
saciar-se com a mulher de outro homem. Quando seu coração se inflamou ao ver
Bate-Seba, ele não procurou por suas esposas ou concubinas, mas satisfez seus
desejos pecaminosos.
No vs.5, não tendo Davi percebido
que a parábola se tratava dele, se irou por considerar o crime tão cruel e
bárbaro. Na lei mosaica o roubo não era passível de morte, mas de restituição.
Note que Natã não havia mencionado que o homem rico além de roubar, também
matou o pobre. Em seguida, Davi estabelece uma pena como ordenado na lei (vs.6,
Ex.22:1 – note que Davi sofreu por causa de quatro de seus filhos: o que morreu
de Bate-Seba, Amnon, Tamar e Absalão; Adonias morreu depois de haver Davi
também morrido).
No vs.9 Davi é condenado por
quebrar o sexto e o sétimo mandamentos. O versículo 10 e os posteriores são a
chave para entender como a profecia está ligada a Cristo. De acordo com a lei
mosaica o homem e a mulher que cometessem adultério morreriam ambos (Lv.20:10).
Davi não estava livre da lei por ser rei da nação, pelo contrário, deveria ser
exemplo de retidão; segundo a lei, Davi deveria ter sido condenado à morte.
Porém, Deus pela sua infinita graça e misericórdia, preservou Davi para que se
cumprisse Sua aliança estabelecida anteriormente (o trono de Davi permaneceria
para sempre).
Não devemos considerar, entretanto, que Deus
livrou Davi da condenação e o deixou impune: primeiro porque o próprio fato de
estar afastado de Deus foi penoso para ele; segundo porque a pena de morte que
deveria ter sofrido, recaiu sobre seus filhos, aquele que tivera com Bate-Seba
mais imediatamente (vs.15 - “o Senhor feriu a criança que a mulher de Urias
dera a Davi, de sorte que adoeceu gravemente”) e em seguida, Amnon, Absalão e
Adonias.
Conclusão
Como dito anteriormente, a
maioria, senão todas as profecias do Antigo Testamento apontam para Cristo ou o
evangelho. As profecias eram inspiradas pelo Espírito e nelas não havia engano
ou imprecisão. Aqueles que profetizavam tinham profunda certeza de que haviam
recebido entendimento divino.
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