quinta-feira, 6 de junho de 2013


As dez virgens – Parte II
Robert Murray M'Cheyne


"E, tardando o esposo, tosquenejaram todas, e adormeceram." - Mt.25:5


É impossível encontrar uma parábola mais solene e estimulante que esta. Na primeira parte mostrei a vocês: primeiro, que os filhos de Deus são realmente prudentes e os crentres nominais são tolos; somente os que são filhos de Deus veêm as coisas como elas realmente são, vivem para a eternidade e têm a mente de Deus. Segundo, os prudentes e os loucos se parecem em muitas coisas: têm as mesmas ordenanças, mesma linguagem, as mesmas orações, e aparentemente o mesmo comportamento. Terceiro, a diferença entre eles, que deveremos considerar agora; apenas uma classe tem, a outra não: o Espírito Santo.

I. A demora do noivo.

Naquele discurso memorável do Salvador à seus discípulos, na noite da ceia, Jesus disse:

"Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; porquanto vou para o Pai." - Jo.16:16

E novamente, João, em Apocalipse, o escuta dizer:

"Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia, e guarda as suas roupas, para que não ande nu, e não se vejam as suas vergonhas." - Ap.16:15

Sua última palavra, a qual pareceu música do céu ao ouvido arrebatado de João, foi: “eis que venho sem demora” e “certamente, venho sem demora”. Ao que parece, muitos dos primeiros cristãos pensaram que Ele viria nos seus dias, de modo que Paulo, em Segundo Tessalonicenses, teve de adivertí-los que a apostasia deveria acontecer primeiro. Também encontramos os escarnecedores, no tempo de Pedro, que costumavam dizer: “Onde está a promessa de Sua volta?”. Desde então, séculos após séculos se passaram e Jesus nunca voltou. Isso explica o trecho “E, tardando o esposo”. Certamente ele deseja vir. Será um dia de alegria para Seu coração, o dia de núpcias. Aqueles que amam a Cristo, amam sua vinda. Eles clamam, como João, “Ora vem, Senhor Jesus” (Ap.22:20). Ainda assim, Ele demora. Por quê?

1. Ele não quer que alguns se percam.

"O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se." - 2Pe.3:9
Essa é a razão da demora: Ele é longânimo. Às vezes, quando vejo alguns atos de homens brutais e perversos, meu coração treme dentro de mim. Então penso em como o Senhor vê tudo isso, toda a maldade cometida em todo o mundo, e ainda assim, Ele a tolera. Ah! Que demonstração de tolerância e compaixão sofredora é essa! Esta é a razão da demora: Ele se compadece dos mais vis, e espera longamente antes de vir.

2. Para prover o número dos seus eleitos.

Cristo está, neste momento, ajuntando um povo dentre os gentios. Ele está construindo o grande templo do Senhor, pedra por pedra. Ele não pode vir até que isso esteja feito. Quando tudo tiver sido feito, então Ele virá. Ele disse a Paulo para continuar e pregar em Corinto: “[...] pois tenho muito povo nesta cidade.” (At.18:10). Pela mesma razão ele faz com que seus ministros continuem e preguem; Ele ainda tem muitas pessoas. Quando vier, aqueles que estiverem prontos entrarão com Ele para o casamento e a porta será fechada. Há, sem dúvidas, muitos eleitos, muitos que foram dados à Ele pelo Pai antes da fundação do mundo, mas estão, ainda, naturalmente mortos. Ele espera para que estes sejam ajuntados. Quando o último dos Seus eleitos for ajuntado, então virá.

3. Para testar a dignidade do seu povo.

Existe uma planta que o jardineiro deve esmagar com os pés para que a faça crescer melhor. Assim é com os filhos de Deus, eles crescem melhor sendo tentados. Há muitas características do povo de Deus que só podem crescer em tempo de aflição:

a) Fé em Suas palavras. O mundo diz: “Onde está a promessa da volta?”. Todas as coisas continuam como eram. Tudo parece contra. Você pode enxergar pelo mundo invisível? Isso é o que se requer: "Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem" (2Co.4:18). Essa é a razão pela qual o noivo tarda: para que a fé cresça.

b) Longanimidade com os adversários. Se Ele viesse agora, e se vingasse de nosso adversário, não teríamos oportunidade de perdoar ofensas nem de ter paciência por causa do Seu nome. Devemos nos conformar à sua morte. Portanto, Ele é longânimo conosco.

c) Compaixão pelas almas. Essa foi a característica mais memorável do caráter de Cristo. Isso o trouxe do trono da glória; isso o fez chorar no Monte das Oliveiras. Nos convém ser feitos como Ele nisso também. Mas, quanto a essas coisas, este é o único tempo em que podemos ser como Ele. Quando Jesus vier, clamaremos: "Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei dos santos" ( Ap.15:3), enquanto ele esmaga Seus inimigos sob Seus pés. Não se maravilhe que Jesus demora.




II. Todas tosquenejaram e adormeceram.

Essas palavras têm sido interpretadas de várias maneiras. Não tenho dúvidas de que a mais simples é a verdadeira, que antes de Cristo vir, todas as igrejas cristãs cairão em profundo sono. A Bíblia mostra que não apenas os hipócritas cairão em sono, mas os verdadeiros crentes também. Por isso vemos os apóstolos dormindo no Monte da Transfiguração e, de novo, no Getsêmani; e Paulo exorta aos romanos: “[...] já é hora de despertarmos do sono” (Rm.13:11).


1) Como os cristãos dormem

a) Os olhos começam a se fechar. Quando, primeiro, trazidos à Cristo, os olhos dos pecadores foram abertos para que vissem:

i) a brevidade do tempo – que não é mais que um palmo.

ii) a vaidade do mundo. Tudo se mostra vão; a excessiva pecaminosidade do pecado. Eles veêm o pecado os cobrindo completamente como demônios, e se maravilham de não estarem no inferno. Eles viram Cristo em sua beleza, plenitude e glória.

Mas agora, todas estas coisas se obscureceram, assim como para o homem sonolento. Todos os objetos exteriores estão, agora, escondidos – a alma não mais vê a brevidade do tempo, o vazio do mundo, a vileza do pecado e a glória de Cristo.

b) Os ouvidos não o ouvem bater à porta. Uma vez o ouvido ouviu Sua voz. Entre outras milhares, a voz de Cristo foi doce e poderosa. Agora, a alma ouve como se Ele não tivesse dito: "Já despi a minha roupa; como as tornarei a vestir? Já lavei os meus pés; como os tornarei a sujar?" (Ct.5:3).

c) O sonho dos que dormem. A alma se ocupa com ídolos. Fantasias vãs. Quando despertada pela primeira vez, a alma diz: “O que tenho mais, eu, com os ídolos?”. Mas agora, quando Cristo e as coisas divinas estão ofuscadas, a alma novamente se apega aos ídolos. Então:

i) deixa de orar. Quão doce é a oração para a alma do crente! Existe um acesso maravilhoso ao trono, derramamento do coração, sem separação, nada é retido. Mas agora há uma esterilidade absoluta, alma não tem mais vontade nem livre acesso.

ii) fica com um espírito temeroso. Uma sensação de culpa repousa sobre a alma, uma sensação estupefata de ter ofendido Deus, um espírito de escravidão.

iii) o crente deixa de temer o pecado. Uma vez, docemente temia o pecado, se mantendo distante das ocasiões em que pecaria, (“[...] como pois faria eu tamanha maldade, e pecaria contra Deus? - Gn.39:9). Agora há uma familiaridade assustadora com o pecado.

2. Como os hipócritas dormem.

a) Eles perdem todas suas convicções. Num tempo tinham profunda e clara convicção do pecado; mas agora eles a perderam. Praticam pecado publicamente afogados em suas convicções. Eles extinguem o Espírito.

b) Perdem a alegria nas coisas divinas. Os que ouvem a palavra, mas são como terreno pedregoso, recebem a palavra com alegria, um flash de deleite. Alguma coisa que o mundo tem atrai sua fantasia – eloquência ou imagens; ou esperando que serão salvos, se agradam e têm grande prazer em ouvir. Mas logo morrem.

c) Desistem da oração. Oram fervorosamente por um longo período. Quando ainda têm convicções, ou iluminados e sob falsa esperança, ou perante aos outros, oram com fluência; mas agora, eles desistem da oração por etapas. “Todas tosquenejaram e adormeceram”. Eles são sonolentos ou não apreciam mais a oração, e, portanto, desistem delas.


Entre os dois grupos existe uma grande diferença: os piedosos ainda têm azeite em suas vasilhas, os outros não. Eu não encorajaria vocês que são piedosos a dormirem; ao contrário, é tempo de acordar do sono. Mas eu não poderia deixar de mostrar quão diferente é o sono dos dois.

a) Os piedosos acordarão de seu sono. É muito pecaminoso e perigoso, mas não fatal. Os hipócritas nunca acordam. A mais rara conversão do mundo, é a do hipócrita endurecido.

b) Enquanto os piedosos [em seu estado de sono] estão sob o descontentamento de Deus, ainda assim não estão debaixo de Sua maldição; mas os hipócritas estão condenados ao inferno.



III. A vinda do noivo.

1. A hora.

À meia noite, numa hora inesperada, Cristo virá. Toda a Bíblia mostra isso:

Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas unicamente meu Pai.” - Mt.24:36

Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir.” - Mt.25:13

É comparado ao relâmpago:

Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem”. - Mt.24:27

O que há mais terrivelmente súbito que um relâmpago? Primeiro, um silêncio assustador, as nuvens negras encobrindo o céu, então, de repente um clarão de leste à oeste. Assim, deverá ser Sua vinda. Como as dores de parto da grávida: “Pois que, quando disserem: Há paz e segurança, então lhes sobre-virá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida, e de modo nenhum escaparão.” (1Ts.5:3). Como um ladrão: “Porque vós mesmos sabeis muito bem que o dia do Senhor virá como o ladrão de noite” (1Ts.5:2). É assim em dois aspectos:

a) Na incerteza da hora. Quando o ladrão vai assaltar a casa, não diz a hora em que irá; não dá sinais de que se aproxima. Se o dono da casa soubesse a hora em que ele viria, se sentaria à espera e não deixaria que sua casa fosse assaltada. Assim será a vinda do noivo “[...] porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir.” (Mt.25:13).

b) O ladrão vem na hora do descanso. Quando toda família foi descansar, quando o dono da casa tranca a porta, quando todas as luzes são apagadas, e todos os olhos fechados em sono, então vem o ladrão, força a porta e entra. Assim será a volta do salvador. Quando Jesus estiver mergulhado em sono, Jesus virá.

Alguns de vocês dirão: “Certamente teremos convidados na hora de Sua volta”. Agora, se há algo muito simples, é que você não sabe o dia nem a hora: “Por isso, estai vós apercebidos também; porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis.” (Mt.24:44).

Se eu lhes perguntasse:
- “Vocês acham que o Filho do Homem virá essa noite?”
Vocês responderiam:
- “Não achamos.”

Bem, ele virá em tal hora. Vocês estão prontos?



2. Uma palavra aos não convertidos

a) Alguns de vocês vivem em desonestidade. Comprando e vendendo; talvez alguns de vocês usam dois pesos e uma balança falsa, ou, de alguma maneira, engana seu vizinho. Que terrível será se Cristo vier e encontrá-los assim. É dito que os homens estarão comprando e vendendo quando Ele vier.

b) Alguns vivem em obras das trevas. Talvez vocês digam: “Certamente a escuridão me cobrirá.”.

"Porque da janela da minha casa, olhando eu por minhas frestas, vi entre os simples, descobri entre os moços, um moço falto de juízo, que passava pela rua junto à sua esquina, e seguia o caminho da sua casa; no crepúsculo, à tarde do dia, na tenebrosa noite e na escuridão." (Pv.7:6-9)

Alguns de vocês cometem coisas vergonhosas até mesmo para se falar. Que terrível será para vocês quando Sua face santa aparecer!

c) Alguns de vocês sufocam a convicção. Como Agripa, vocês quase estão quase persuadidos a se tornarem cristãos (At.26:28). Como Felix, vocês vacilam e dizem: “em uma outra oportunidade” (At.24:25). Alguns deixarão suas convicções por uma pequena alegria, por um prazer mundano, dizendo: “Ainda há muito tempo antes de eu morrer.” Ah! O que vocês farão quando o clamor vier à meia noite? Não haverá tempo para uma oração, nem para a abrir sua Bíblia; não haverá tempo para conversão.


Mas à meia-noite ouviu-se um clamor” - Mt.25:6



(Tradução: Rafael Abreu)

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